O ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal) Gilmar Mendes disse ontem que o país necessita fazer "uma
reforma completa do sistema de Justiça criminal" e que a primeira
instância do Judiciário "não funciona" no país.
O ministro deu as declarações durante sessão no tribunal, ao
comentar o caderno "A Engrenagem da Impunidade", publicado pela Folha no
último domingo.
As reportagens revelaram que falhas e omissões cometidas por juízes,
procuradores da República e policiais federais estão na raiz da
impunidade de políticos que têm direito a foro privilegiado no Supremo.
Segundo a legislação, ministros, senadores e deputados federais,
entre outras autoridades, só podem ser processadas e julgadas no STF.
Mendes disse que temas "extremamente complexos" dão origem a
"soluções simples e, em geral, erradas", numa referência à proposta de
extinção do foro privilegiado.
"Recentemente o grande jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria
sobre o funcionamento do foro privilegiado. E logo alguns apressados
chegaram à conclusão: o foro privilegiado funciona mal, logo funciona
bem o primeiro grau. Certo? Não. Errado. Não funciona bem o primeiro
grau também no país."
Entre as reportagens publicadas pelo jornal, havia uma entrevista
com um colega de Mendes no STF, o ministro Celso de Mello, na qual ele
defendia a supressão "pura e simples" do foro especial.
Mello observou que o foro para senadores e deputados federais, que
representam a imensa maioria dos processos hoje em andamento no STF, só
foi criado em 1969, durante a ditadura militar.
Ontem, no tribunal, Gilmar Mendes disse que o Judiciário de primeira
instância tem sérios problemas estruturais. "Falta defensor, falta
juiz, falta promotor."
O ministro disse que existem "4.000 homicídios sem inquérito abertos
em Alagoas" e "mil crimes" contra a vida prestes a prescrever em
Jaboatão dos Guararapes (PE).
"Não vamos fazer simplificação em relação a isso. É necessário fazer
uma reforma completa do sistema de Justiça Criminal", declarou.
As principais entidades de juízes e procuradores da República e a
corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, defendem a
extinção do foro. Ela disse que o mecanismo "é próprio de 'república das
bananas'".
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
FONTE: CLIPPING DA AASP, 01/03/2012
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