terça-feira, 13 de novembro de 2012

A morte de um poeta

Por Edmundo Arruda
Titular UFSC

Seu nome era Ken Sato Wiwa. Tinha cinquenta e cinco anos. Negro, nascido na Nigéria, morreu numa forca naquele dez de novembro de 1995.

Esse escritor não morreu sozinho. Oito de seus companheiros de luta por democracia também morreram naquele mesmo dia. O carrasco funcionou bem como queriam os seus algozes: não fêz o bom nó da morte. Ken agonizou vinte minutos até o último suspiro. Ele não morreu sozinho, vale a ênfase. Morremos todos um pouco com ele naquele enforcamento.

Qual o crime desse conhecido escritor, autor de Uma floresta de flores, Canções no tempo da guerra, e Viagem pela noite? Seu crime foi ser um cidadão modelar. Era presidente da Associação de Escritores da Nigéria. Presidia também o Movimento pela vida do povo Ogoni (MOSOP), minoria étnica que lutava diuturnamente no plano da defesa ecológica, diante dos atentados contra a natureza perpetrados pelas companhias petrolíferas, principalmente a Shell. Militante contra a sistemática violação dos Direitos humanos por parte da ditadura nigeriana. Pugnava por cidadania. Sua utopia era o igualitarismo fundado no respeito às diferenças e na solidariedade fraterna.

Dos vinte e seis livros que escreveu, a maioria era destinada às crianças. Ken sonhava com o desperdício da infância ma Nigéria, ver meninos e meninas bem nutridos e fortes. Seu sonho é o nosso sonho, o sonho de quem ainda possa se olhar no espelho e ver um ser humano, e não um canalha, conivente com a barbárie. Seu sonho é o sonho de liberdade. Onde se encontre uma criança privada do sorriso por fome, onde haja o sofrimento de uma infância roubada pela morte ou ferimento em guerras, lá está o espírito de Ken Sato. Ele está por toda a nossa América Latina, pelo nordeste brasileiro. Ele está em todas as terras ainda marcadas pelo arcaísmo pré-moderno, graças à ação das elites retrógadas que se locupletam à custa de negociatas, assaltos as cofres públicos, ajudando a manter os latifúndios improdutivos e a repressão sistemática contra os ventos do progresso.

Dói fundo a morte prematura e violenta de uma chama de liberdade. Dói demais a agonia de uma voz calada pelo cadafalso dos intolerantes. Voz digna dos oprimidos, continua sendo “a lança na garganta do lobo”, aproveitando ao poeta pernambucano Miguel Moacyr Alves de Lima. Voz dos excluídos, resistente contra a consequências do imperialismo e do terror..

Talvez na tradição de Thoreau, Ghandi e Luther King uma pequena grande atitude possa fazer a diferença, em homenagem a Ken Sato-Wiwa. A condenação de uma das multinacionais responsáveis pela manutenção a ditadura nigeriana, e contra a qual o poeta se bateu desde a década de sessenta. Os leitores solidários podem deixar de abastecer seus automóveis nos postos Shell. Parece romantismo idealista ou subjetivismo revolucionário. Talvez. Por certo a atitude aconselhada não desestruturará o capitalismo transnacional mais será simbolicamente importante. Gravará na memória de muitos a vida-poema de um homem que não viveu em vão, Ken Sato, um mártir pela causa perpétua da Paz! E dos direitos humanos no seu núcleo maior, o direito à vida!

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