sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Só 3% dos inquéritos acham culpados para assassinatos

Mutirão nacional lançado com o objetivo de retomar investigações de assassinatos ou tentativas de assassinatos que estavam abandonadas teve pouco efeito prático.
A meta estabelecida por governo federal, Justiça e Ministério Público era concluir até o fim do ano passado 143 mil inquéritos abertos antes de dezembro de 2007 e que estavam sem solução.
Até dezembro de 2011, apenas 28 mil, 20% do total, tiveram um fim. E esse fim não resultou em apontar culpados. Cerca de 80% desses 28 mil inquéritos só foram concluídos porque os casos foram arquivados, sem qualquer solução.
O número de casos remetidos para o Ministério Público para que uma denúncia formal fosse oferecida à Justiça é de 4.652. Ou seja, pouco mais de 3% dos 143 mil casos que eram alvo do mutirão tiveram um culpado apontado.
Para um inquérito policial ser arquivado é preciso um parecer do Ministério Público e a concordância da Justiça.
O número de arquivamentos em todo o país só não foi maior porque 69 mil casos que a polícia queria arquivar foram mandados de volta às delegacias pelo Ministério Público sob o argumento de que as investigações eram insuficientes para que culpados não fossem apontados.
O Estado que mais arquivou inquéritos foi o Rio de Janeiro: cerca de 96% das investigações foram encerradas sem a descoberta do criminoso.
A promotora fluminense Renata Bressan nega que tenha havido arquivamento em massa de casos no Estado.
A conselheira do Enasp Taís Ferraz afirma que os inquéritos policiais arquivados podem, no futuro, ser reabertos caso apareçam novas provas que ajudem a encontrar culpados pelos casos de homicídio ou tentativa de homicídio.
Com o fracasso do mutirão, o Enasp (Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública), que reúne o Ministério da Justiça e os conselhos de Justiça e do Ministério Público, resolveu adiar o prazo de conclusão dos inquéritos para abril deste ano -não são previstas punições para o não cumprimento da meta.

FALHAS

Delegados e promotores atribuem o volume de arquivamentos a falhas de investigação. Há inquéritos sem autores ou testemunhas e suspeitos identificados como "Yara de Tal" ou "Zé Gordo". Também há crimes prescritos ou em que o autor já morreu.
"Não é só falha na investigação, mas ausência de investigação por falta de estrutura", diz o promotor Paulo Panaro, do Espírito Santo.
Falta investir em estrutura e em perícia, diz entidade
Faz quase cinco anos que o metalúrgico Fábio Luiz Klos, 31, foi morto a tiros em Curitiba. Até hoje, ninguém sabe dizer de onde vieram os disparos, nem as duas primas que o acompanhavam na noite de 17 de junho de 2007.
A morte de Klos está prestes a tomar o destino da maioria das investigações sobre homicídios no país: arquivada por falta de provas.
De acordo com especialistas em segurança pública, a resolução de homicídios é uma das principais formas de inibir o crime no país.

BAIXA CONDENAÇÃO

Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari, especializado em realizar mapeamentos de crimes, "está comprovado historicamente que impunidade gera violência".
O sociólogo Waiselfisz estima que em apenas 8% dos casos de homicídio o assassino acaba condenado.
"Mas é um cálculo conservador, porque eu sei que o Ministério da Justiça estima que são 5%. E, com a interiorização dos crimes, que estão em cidades com menos estrutura de investigação, é possível que isso tenha diminuído", afirmou o sociólogo.
O presidente da Cobrapol (Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis), Jânio Bosco Gandra, também aponta falta de estrutura nas polícias civis e técnicas, que são as responsáveis diretas pela investigação de qualquer crime nos Estados brasileiros.
"Os policiais não conseguem elaborar inquéritos, não conseguem provas. Os Estados não investem nas perícias, que estão com equipamentos obsoletos. E o número de peritos é muito pequeno", afirmou Gandra.
Com isso, de acordo com Gandra, "os criminosos sabem que podem praticar crimes e não vão ser punidos".
Interior 'se adianta' à violência e investe em sistemas de segurança
Para entrar no condomínio, o morador passa por um sistema de identificação biométrica, por dois portões e até por uma portaria blindada. A cena, recorrente na capital paulista, está se tornando comum também no interior do Estado.
Em São Paulo, condomínios estão virando "fortalezas" até em localidades sem registro de arrastões a prédios e com índices de criminalidade menores que os da capital paulista.
Síndico de um edifício de 228 apartamentos em São José do Rio Preto (a 438 km de SP), Junior Villanova já aplicou cerca de R$ 40 mil e gastará mais R$ 20 mil somente em segurança.
O investimento no local inclui um sistema que fotografa visitantes, equipamentos biométricos e "vaga do ladrão", onde o morador estaciona para alertar se há um bandido no automóvel.
"As cidades estão crescendo e, com isso, vêm os problemas. A gente tem que investir pesado na segurança", afirmou o síndico.
Para o delegado Genival Santos, no entanto, esses "problemas" não existem na cidade. "Temos dezenas de condomínios, mas não há assaltos ou arrastões. Teve um furto no ano passado", disse.
Já para o diretor de condomínios da regional do Secovi (sindicato das empresas do setor imobiliário), Alessandro Nadruz, "as pessoas estão se adiantando ao problema".
Em Marília (a 435 km de SP), um prédio de classe alta acabou de finalizar um sistema de segurança que custou R$ 200 mil -inclui portaria blindada, "gaiola" e identificação biométrica.
Em São Carlos (a 232 km de SP) e Presidente Prudente (a 558 km de SP), também foram adotados sistemas semelhantes de segurança.
O mesmo ocorreu em Sertãozinho (a 333 km de SP), na região de Ribeirão Preto, onde até o prefeito se mudou para um condomínio fechado.

'MEDO'

Para Viviane Cubas, especialista do Núcleo de Estudos da Violência da USP, mesmo com índices de criminalidade baixos, esses municípios também registram problemas com violência, o que pode justificar a adoção desses sistemas de segurança por seus condomínios.
Medo de roubos leva moradores para condomínios Sertãozinho carrega no nome uma simplicidade de cidade de interior que há muitos anos deixou de ter.
No município, de pouco mais de 110 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o medo levou moradores a buscar os condomínios fechados.
No Burle Marx, condomínio de casas de alto padrão na cidade, há dispositivos de segurança que não deixam nada a desejar aos existentes na capital.
Além de portaria 24 horas e cercas elétricas, há reclusa de contenção de veículos, conhecida como gaiola. São dois portões - o interno só se abre quando o da rua é fechado. O residencial ainda tem, é claro, câmeras e o monitoramento de uma empresa de segurança privada.
Tanto aparato se faz necessário para garantir a tranquilidade de moradores de classe social elevada -a maioria, empresários.
O próprio prefeito, Nério Costa (PPS), mudou-se para um condomínio, o Villa Borghese, com 104 casas.
A Rio Branco, empresa que administra o residencial, informou receber ligações de pessoas que foram assaltadas e, agora, querem viver em local fechado.
A apresentadora Letícia Bighetti Savegnago, 32, decidiu construir sua casa no condomínio onde já mora parte da família do marido.
"Sei de pessoas de casas em ruas abertas que, ao abrir o portão eletrônico, o ladrão entra junto. Aqui, fico mais tranquila", afirmou ela.

LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA

FONTE: AASP, 23/02/2012

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