O aumento das oportunidades no setor
jurídico está levando empresas e escritórios de grande porte a apostar
em programas de retenção de talentos. Os investimentos para manter esses
advogados são motivados por um sinal de alerta: considerada
relativamente estável no passado, a área de advocacia enfrenta hoje o
desafio da alta rotatividade de profissionais.
De acordo com Viviane Lima, sócia da consultoria Global Legal
Search, especializada no recrutamento jurídico, durante muito tempo era
comum o advogado brasileiro escolher entre montar o próprio escritório
ou fazer carreira em uma só empresa ou firma de advocacia. Esse cenário,
no entanto, mudou. "Com o mercado aquecido, os escritórios cresceram e
surgiram oportunidades tentadoras para profissionais."
Os currículos recebidos na Global Legal Search são um termômetro
desse novo comportamento. Segundo Viviane, de 20% a 30% dos candidatos
tiveram experiências em diferentes empresas em um curto espaço de tempo.
"Sempre questionamos o porquê das mudanças. A remuneração é um dos
motivos, mas os profissionais também são atraídos por cargos com mais
prestígio ou com atuação mais estratégica dentro das empresas, por
exemplo", afirma.
A importância da diretoria jurídica é uma das principais razões para
que o turnover dessa área seja quase inexistente na Odebrecht Transport
(OTP). Segundo a diretora Juliane Marinho, o departamento é considerado
estratégico e participa das decisões de negócios da empresa. "Esse
envolvimento no processo decisório faz com que sejamos referência no
mercado. Isso atrai profissionais e, ao mesmo tempo, contribui para a
retenção dos nossos advogados".
A rotatividade da equipe jurídica, segundo a diretora, ocorre
internamente - é comum que os profissionais da área 'circulem' entre
empresas do grupo Odebrecht. "Isso promove desafios constantes e faz com
que eles mudem de emprego sem precisar sair da companhia".
No escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch, a rotatividade
baixa é creditada ao plano de carreira oferecido aos profissionais.
"Eles são avaliados todos os anos e têm um horizonte de crescimento",
afirma o sócio sênior Luis Antonio Femeghini de Souza. Buscando aumentar
as chances de evolução para os jovens sócios, o escritório iniciou este
ano um programa de capacitação para esse público com foco em gestão.
Nos próximos meses, três sócios embarcarão para cursos de duas semanas
em universidades de prestígio como Yale e Stanford. "O objetivo é fazer
com que esses advogados saiam um pouco da visão estritamente jurídica e
ganhem maturidade em outras questões como marketing e gestão de
pessoas", explica. A maior parte dos profissionais tem pouco mais de 30
anos, faixa crítica no mercado jurídico, segundo especialistas - nessa
idade, já são considerados seniores e entram na mira dos concorrentes.
Outra estratégia de retenção adotada pelos escritórios está
relacionada à remuneração. Algumas firmas têm incluído seus sócios na
participação dos resultados da empresa. É o caso do Souza, Cescon,
Barrieu & Flesch, que não remunera seus sócios com salário fixo, mas
com uma porcentagem dos lucros proporcional ao nível de senioridade. "É
uma medida fundamental para garantir a retenção dos jovens. Eles
começam a se sentir parte do negócio e conseguem ver o resultado do seu
trabalho ao longo do tempo", diz Souza.
Com mais de cem advogados, o escritório Salusse Marangoni
desenvolveu, há dois anos, um plano de carreira que deixa claro o
caminho que pode ser percorrido pelo profissional, bem como sua faixa de
remuneração. "As avaliações são semestrais e as revisões salariais são
periódicas", afirma Regina Pinto de Souza, coordenadora do departamento
de RH. O escritório também oferece benefícios financeiros aos
profissionais que permanecerem na empresa por mais tempo - uma
porcentagem do salário é depositada em um plano de previdência privada
que tem uma tabela progressiva de saque. O advogado que sair antes de
completar de três anos de casa não tem direito ao benefício; a partir
desse período, essa parcela sobe para 20% e chega a 100% para quem está
há mais de dez anos no escritório.
No entanto, o segredo de uma baixa rotatividade em um mercado
aquecido, segundo Regina, está relacionado ao clima organizacional. "Os
profissionais, especialmente os mais jovens, valorizam um ambiente
amistoso e onde há colaboração ao invés de competitividade acirrada",
diz.
Vívian Soares - De São Paulo
Fonte: Valor Econômico, via Clipping AASP, 02/05/12.
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