quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A ministra gaúcha que é o meio-termo entre o relator e o revisor do mensalão

Nem relator, nem revisor. No julgamento das duas primeiras fatias do processo do mensalão a posição que prevaleceu na mais alta Corte do país partiu da ministra Rosa Weber. 

Discreta nos gestos e nas palavras, a caloura entre os 10 integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) se notabiliza pela característica que mais preza: a qualidade do trabalho. 

Prestes a completar nove meses na cúpula do Judiciário, a magistrada gaúcha aparece no julgamento como meio termo entre a mão pesada do relator Joaquim Barbosa e a caneta mais leve do revisor Ricardo Lewandowski. Trata com rigor os desvios de dinheiro público, porém evita condenações onde enxerga insuficiência nas provas. 

Obrigados pela natureza da função a se debruçar com maior densidade sobre o processo, em tese o relator e o revisor influenciariam a decisão dos demais colegas, o que não tem acontecido. Primeira a se manifestar depois dos dois ministros — a votação segue ordem inversa de antiguidade na Corte —, Rosa Weber tem proferido a posição vitoriosa no colegiado. 

— A ministra se mostra atenta e muito segura — elogia o advogado Luciano Feldens, que defende o publicitário Duda Mendonça. 

Na etapa do julgamento sobre o desvio de recursos do Banco do Brasil e da Câmara, Barbosa condenou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), enquanto Lewandowski o absolveu. Já a gaúcha trouxe um voto médio, como se define no jargão jurídico. Puniu o petista por dois crimes e o livrou de peculato, posição soberana na Corte. Na análise da gestão do Banco Rural, a magistrada condenou três e absolveu um dos ex-dirigentes do banco mineiro, entendimento adotado por outros sete ministros. 

— Ela tem sido extremamente técnica — analisa um juiz que transita pelos gabinetes do STF. 

Antes do julgamento, a profundidade dos votos da magistrada era considerada uma incógnita, já que ela erigiu sua carreira no Direito trabalhista, distante da área criminal. Contudo, quem convive com a ministra não mantinha tais ressalvas. 

Adepta de uma rotina espartana de trabalho, Rosa estuda o processo desde 19 de dezembro, quando tomou posse no STF. É normal ser vista aos sábados e domingos no gabinete, aonde durante a semana costuma chegar às 8h e sair às 22h. Deixou de gozar férias no recesso de julho a fim de lapidar sua análise do mensalão. 

Na última semana, Rosa citou em seu voto as reuniões do ex-ministro José Dirceu com dirigentes do Banco Rural. Para os advogados, é um indicativo de que ela pode pesar a mão na hora de julgar o principal dirigente do PT. No julgamento, ela foi a primeira a descartar a necessidade do ato de ofício para condenar os réus — o que pode ser decisivo no caso de Dirceu, em que o próprio Ministério Público reconhece a dificuldade na obtenção de provas.

Fonte: Zero Hora, via Clipping AASP.

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